A Kawasaki gosta de extremos. A VN 1700 Voyager Custom está de acordo com essa forma de estar. Alberto Pires pôs a Voyager à prova em vários ambientes.
É imponente, mas simultaneamente fluida e elegante. Parece que foi demoradamente esculpida pelo vento, restando apenas os elementos mais importantes. Não se pode dizer que seja original, já que se inspirou decididamente na Harley-Davidson Street Glide, mas consegue ser mais sóbria, usando apenas os cromados necessários para definir as suas linhas.
Não é difícil sentarmo-nos. O banco é baixo, colocamos os dois pés com facilidade no chão e o guiador não está distante. Recolhendo o descanso, engata-se primeira e o arranque é suave. A primeira impressão é positiva, a embraiagem liberta a potência de forma suave e a progressão é envolvente. A ausência de vidro na dianteira agradece-se, o horizonte fica mais limpo, os comandos são macios e não obriga a particular cuidado a baixa velocidade, para além de se ter a certeza que há espaço para a frente passar.
Depois do primeiro choque, começam a sobressair os detalhes. Com sinal negativo a largura excessiva do depósito na parte inicial, não permitindo envolvê-lo com as pernas, e os espelhos, algo metidos dentro e a vibrarem demasiado a baixa rotação. Em contrapartida, as platinas onde assentam os pés estão cobertas com borracha, que está colocada sobre uma espécie de amortecedores, filtrando bem as vibrações.
A forma do banco e a espuma dos punhos completam este quadro, incitando ao passeio. A posição de condução é natural. Os braços ficam esticados mas não ao ponto de limitar a capacidade para manobrar, e o esforço para a colocar em curva é reduzido. As suspensões absorvem razoavelmente no empedrado e a travagem dianteira é suficiente na maioria das situações, sendo apenas necessário recorrer à travagem integral accionada pelo pedal quando o ritmo já é elevado.
O volume da Voyager causa um efeito curioso aos que nos rodeiam na estrada. É frequente sentirmos que os automobilistas "dão um jeito" para passarmos, mas aos comandos desta VN 1700 é notória a preocupação em nos facilitarem a passagem, como se nos quisessem ajudar a dominar o monstro. A caixa é lenta e barulhenta no accionamento, estando pensada para os grandes espaços, sendo a sexta velocidadeoverdrive, mais longa e destinada a rodar pouco acima das 2.000 rotações em auto-estrada. É neste ambiente que se pode usar o cruise control, que funciona bem e é fácil de ajustar recorrendo apenas ao polegar direito, sendo reduzido o nível de vibrações do conjunto em velocidade de cruzeiro.
O ruído de funcionamento é reduzido graças à transmissão por correia e a uns silenciosos de escape eficazes, sendo possível usufruir, em andamento, do potencial da instalação sonora, com rádio e ligação ao iPod. O consumo não é baixo. A um ritmo conservador, nos vários ambientes, ficou-se pelos 8,5 litros, mas rodando exclusivamente em estrada aberta deve baixar um pouco, garantindo os 20 litros do seu depósito de combustível uma autonomia superior a 300 quilómetros.
Em cidade, porventura para alguns o seu ambiente de eleição, o cenário é menos relaxado. A baixa velocidade nota-se que o motor aquece e em redor o ambiente fica mais quente e, ao estacionar, é obrigatório pensar de que forma é que se vai sair, já que o seu peso não o vai ajudar nas manobras. Por outro lado não é conveniente andar a mudar de faixa ou a tentar passar por entre os automóveis, sob pena de nos colocarmos em situações embaraçosas. Deve assim ser usada com sobriedade, deixando que seja a sua simples presença a marcar o momento e a criar o efeito. Todos olham, podem gostar ou não, mas ninguém lhe é indiferente.
Ficha Técnica
Motor
Tipo: Bicilíndrico em V a 4 tempos, refrigeração líquida
Distribuição: SOHC, 8 válvulas
Cilindrada: 1700cc
Potência declarada: 73cv às 5.000 rpm
Binário declarado: 136 Nm às 2.750 rpm
Caixa: 6 velocidades
Peso em ordem de marcha: 382 kg
Preço: 18.088€